O melhor do mundo

 

                Eu estava à beira-mar numa bela tarde de verão de 2000, numa praia de areia fina e dourada da região Centro. A imensidão e mansidão daquele enorme espelho de água azul  e o calor do Sol que me aquecia, davam-me uma sensação de um bem-estar tão poucas vezes vivido. De vez em quando, circulavam pessoas que descontraidamente iam respirando aquele ar fresco e leve da  maresia.

                Subitamente, aproximou-se de  mim uma rapariga de uma beleza indiscritível que com a sua voz jovial, doce e fresca me indicou o lado oposto ao mar. A vida não termina aqui, daquele lado encontrarás muitos motivos para poderes ser útil à humanidade.

                Dito estas palavras, aquela jovem de cabelos de ouro e olhos de mel afastou-se e eu segui na direcção oposta contemplando a natureza que ia percorrendo. Subi dunas, desci, passei por montes e vales cobertos por um imenso manto verde. No ar havia um aroma fresco e suave de cheiro a verdura e a flores e uma melodia harmoniosa de imensas aves selvagens iam extasiando a minha mente, provocando em mim um enorme sentimento de gratidão ao senhor do Universo.

                Volvidos alguns quilómetros, encontrei o primeiro povoado, algumas centenas de metros mais à frente outro e mais outro e mais outro ainda até chegar a uma grande cidade onde o canto suave dos pássaros foi substituído pelo rugido dos motores dos carros e  pelas conversas das pessoas. Em simultâneo o verde das árvores foi dando lugar ao  colorido dos edifícios e dos automóveis.

                Mais à frente comecei a observar pessoas que descansavam em recantos sobre papelões e jornais, outras que tentavam retirar do lixo alguma coisa que as sustentasse e as mantivesse vivas, outras pessoas tinham o cabelo grande e sujo e outras vestiam roupas excessivamente envelhecidas, outras pessoas ainda pediam com humildade uma moeda ou um pouco de água ou comida.                                

                Pouco tempo depois do pôr-do-sol, cheguei a um grande largo onde se encontrava uma multidão. Eram pessoas que aparentavam serem marginalizados e que recebiam  das mãos de umas pessoas que estavam junto a umas carrinhas alimentos, roupas e cobertores.            

                Quem são estas pessoas e o que fazem aqui? Perguntou a minha ingenuidade às pessoas que davam alimento e agasalho aquela multidão. Estas pessoas são os excluídos da sociedade, aqueles a quem os senhores do poder chamam de “parasitas da sociedade” e “inúteis”.

                Compadecido com aquela situação de tantos irmãos, decidi então começar a ajudar aqueles voluntários a dar comer e roupa àqueles excluídos da sociedade e esquecidos do poder. No fim do trabalho, eu senti que aquele era um dos dias mais belos e felizes da minha vida. Lembrei-me então que aquela voz feminina, doce e meiga à beira-mar me indicou um lugar onde poderia ser útil a esta pobre humanidade, deixando de me limitar ao egoísmo sensual da contemplação da natureza.